Política de acesso ao acervo
Regras para acesso ao acervo físico da Casa Zuzu Angel/Museu da Moda
Tuesday, August 25, 2020
É muito comum as pessoas associarem a moda à passividade política ou, pior ainda, ao conservadorismo e ao elitismo. Mas, no Brasil, o mundo da moda produziu uma Super-Revolucionária: Zuzu Angel Jones, nascida Zuleika de Souza Netto (1921-1976).
Zuzu nasceu em Minas Gerais e tornou-se uma renomada costureira. Nos anos 1970, seu trabalho tinha conquistado a Zona Sul carioca, e ela conduzia uma bem sucedida loja em Ipanema.
Casada com o norte-americano Norman Jones (de quem se separou em 1960), Zuzu teve três filhos: Stuart Angel, Hildegard Angel e Ana Cristina Angel. Stuart, na virada dos anos 1960 para os 1970, ingressou no MR-8 (Movimento Revolucionário 8 de Outubro). Preso pela ditadura, o estudante de economia foi barbaramente torturado e morto por militares da Aeronáutica em junho de 1971. Seu corpo encontra-se até hoje desaparecido.
Zuzu começa então a luta pela busca do filho e pela denúncia da ditadura militar. Faria isso até 14 de abril de 1976, quando uma simulação de acidente rodoviário lhe tirou a vida: uma das fotos do dia revela a presença no local do coronel do Exército Freddie Perdigão Pereira, conhecido torturador e agente da repressão. Uma semana antes do assassinato, Zuzu Angel deixou com o compositor e cantor Chico Buarque uma carta que dizia: “Se eu aparecer morta, por acidente ou outro meio, terá sido obra dos assassinos do meu amado filho”.
Com Zuzu Angel, o baralho Super-Revolucionários ganha mais uma carta. Trata-se de um projeto de Opera Mundi, iniciado em conjunto com o site Nocaute, com concepção e texto de Haroldo Ceravolo Sereza e desenho do artista plástico Fernando Carvall. Já foram publicadas cartas de Pierre-Joseph Phroudon, Mikhail Bakhunin, Friedrich Engels, Emma Goldman, Paulo Freire, Florestan Fernandes, Pagu, Miriam Makeba, Hugo Chávez, Rosa Parks, Lênin, Clara Zetkin, Ernesto Che Guevara, Antonio Gramsci, Fidel Castro, Liudmila Pavlichenko, Luís Carlos Prestes, Frida Kahlo, Alexandra Kollontai, Bela Kun, Nelson Mandela, Mao Zedong, Simone de Beauvoir, Stálin, Marina Ginestà, Ho Chi Minh, Leon Trotsky, Olga Benario, Karl Marx, Salvador Allende, Tina Modotti, Carlos Marighella, Rosa Luxemburgo e Franz Fanon.
Assim que alcançarmos um número suficiente de cartas, vamos montar um jogo inspirado no conhecido Super Trunfo e publicar um livro com os cards e informações sobre esses heróis da resistência e da transformação.
As avaliações são provisórias e estão sujeitas a modificação.
REBELDIA: 7
A rebeldia de Zuzu se manifesta, de certa forma, tardiamente, quando ela se recusa a enfrentar a farsa montada pela ditadura após a captura de Stuart Angel. Ela declara uma guerra pessoal à ditadura, com o objetivo de denunciar o crime cometido.
DISCIPLINA: 8
Em sua luta, Zuzu demonstrou firmeza e um enorme sangue frio. Em setembro de 1971, consegue autorização para realizar um desfile no consulado brasileiro em Nova York. Seu objetivo era contornar a legislação que previa a punição de brasileiros que criticassem o país no exterior: como um espaço diplomático, o consulado era, tecnicamente, um território nacional.
TEORIA: 6
Embora não estivesse ligada a nenhum grupo político específico, Zuzu utilizou um variado arsenal para manter sua busca pelo filho: recorreu à cidadania norte-americana do filho para cobrar o governo os Estados Unidos (em maio de 1973, driblou a segurança e conseguiu entregar um dossiê sobre o desaparecimento de Stuart Angel a Henry Kissinger, então secretário de Estado dos EUA, que visitava o então presidente Ernesto Geisel no Rio), utilizou a projeção internacional de suas roupas para denunciar a barbárie no país e mobilizou artistas na luta contra a tortura e o desaparecimento de militantes políticos.
POLÍTICA: 7
A atuação de Zuzu no cenário internacional, mobilizando políticos do Partido Democrata norte-americano em defesa dos direitos humanos no país, foi central para denunciar para os setores progressistas dos EUA o apoio que o Estado norte-americano deu para a instauração e manutenção da ditadura no país. De certo modo, é possível dizer que essa atuação ajudou a construir um cenário em que a administração democrata de Jimmy Carter (1977-1981) se pautasse pelo fim do suporte a ditaduras na América do Sul.
COMBATIVIDADE: 10
Zuzu não se dobrava às pressões e foi extremamente criativa em seus gestos de bravura. Certa vez, tomou um microfone da mão de uma comissária de bordo para avisar os passageiros do voo que eles "desceriam no Aeroporto Internacional do Galeão, no Rio de Janeiro, Brasil, país onde se torturavam e matavam jovens estudantes".
INFLUÊNCIA: 9
Zuzu combinou estampas simples de chitas, típicas do interior de Minas, onde nasceu (ela era da cidade de Curvelo), com temas folclóricos e regionais, sedas finas, pedras brasileiras e rendas, além de fragmentos de bambu, madeira e conchas, o que representou uma enorme renovação para a moda brasileira. Na sua luta pelos direitos humanos, Zuzu também se tornou uma referência por utilizar a moda como um instrumento de denúncia, o que marcou, definitivamente, sua atuação, tornando-a uma referência obrigatória para se pensar o papel social e político das roupas.
Fonte: UOL/ Opera Mundi /Super Revolucionários por Haroldo Ceravolo Sereza e Fernando Carvall
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